ser independente

indie1

Como vocês têm reparado, tenho pensado bastante em todo esse lance de “ser independente”. Por mais que o termo indie, ou independente mesmo, seja usado mais em referência às bandas de rock de selos pequenos ou ainda não contratadas por nenhum selo, creio que a nomenclatura vá muito além de um estilo musical. Entendam: não estou achando que as coisas que escrevo aqui sejam novidade. Posso estar tanto errado quanto atrasado na conversa, mas é que no nosso mundinho, o cristão, eu nunca tinha visto ninguém falando sobre isso.

Também não acho que sou o primeiro a falar, tá? 😛

Mas então… prosseguindo. De certa forma, a maioria dos artistas gospel e cristãos (aqui vale colocar tudo em pratos limpos: gospel, pra mim, é quem joga para galera, enquanto cristão, para mim, é quem segue seus instintos) são independentes, pois não se valem de uma gravadora propriamente dita para divulgar seu trabalho. Alguns são distribuídos por selos (como o VPC), outros têm suas próprias gravadoras / distribuidoras (como aquele pessoal que quer de volta o que era deles, mas antes dizia que abria mão de tudo por Deus), mas no fundo, no fundo, são independentes, têm algum poder sobre sua obra.

A questão, ao que me parece, é que mesmo nesse meio, onde a independência reina, ainda dá para ser independente na essência. Digo isso por que tem muito ministério que iniciou com sonhos de ser igual a x ou y, muitas vezes abrindo mão de seus gostos pessoais para abraçar algo enlatado e pronto para venda. Será que realmente vale tanto a pena assim estar na mídia?

Pessoalmente, antes do projeto do EP, eu quebrava a cabeça querendo compor músicas mais agitadas, mais no estilo modern worship que ouvia diariamente, e estava constantemente frustrado por compor apenas melodias simples, muitas vezes melancólicas, com letras que certamente não figurariam no louvor de muitas igrejas brasileiras. Todo o processo do EP, e as portas que foram abertas, foi muito libertador. Libertador por poder abraçar plenamente a arte como ela sai de mim, e não como eu queria que ela saísse e libertador por ver quantas vidas foram, de certa forma, tocadas por todo esse processo.

Agora, preparando o material pro CD, a pressão diminui, e surgem os mais variados tons e ritmos, coisa que eu nunca imaginei que faria, e novamente esse processo libertador nasce em mim, pois não estou preso à necessidade de agradar a um determinado grupo, mas apenas a Deus, ou a mim, dependendo da perspectiva do leitor.

Nesse sentido, a essência indie é importante, pois faz com que a própria pessoa, de certa forma, curta aquilo que faz. Não são poucas as histórias de bandas que, após gravarem determinado disco, nunca o ouviram… e isso não se dá, creio eu, pela exaustão do processo criativo, mas sim pelas pressões das corporações, insistindo nos cifrões e abrindo mão do coração do artista.

É nesse sentido que tenho sido impelido a fazer algo com as boas e novas bandas que têm surgido, sejam congregacionais, contemplativas, seculares… importa que nós, como cristãos, estejamos fazendo aquilo que o Pai plantou em nossos corações.

Público sempre vai ter. Dinheiro, nem sempre. Mas como disse Milton Nascimento, “todo artista tem que ir aonde o povo está”, e pelo que ando vendo, o povo anda com uma certa urgência por coisas verdadeiras.

7 Comments Add yours

  1. Cara, estamos meio conectados,

    ontem conversava com minha namorada que sinto falta de ouvir músicas sinceras, trabalhadas, que de certa forma balançam nossa alma. Acredito em dias diferentes, em que vamos substituir a aparência pelo conteúdo, abraço,

    posso postar essa matéria no Papo? Já postei, rsrs.

    Abração.

  2. Sandro says:

    Mano,

    Lembro que até meus 16 anos ouvia as bandas punks/HC. Gostava da sinceridade, urgencia e do famoso “Do It Yourself”. Bandas faziam as letras sem se importar com vendagens, faziam a propria arte dos cartazes de show, divulgação boca a boca, etc

    Viraram lendas, não viraram podutos de marketing.

    Concordando ou não com o discurso ideológico de tais bandas, não podemos deixar de olhar que elas resolveram colocar a alma e intuiçao a frente do mercado.

    Deixei de ouvir estas bandas, principalmente porque fui crescendo. Não deixei de procurar bandas que tinham a mesma essencia criativa e aberta. Quando começaram a chamar bandas ‘indies`a grande midia queria rotular banda que seguiam muito mais sua intuiçao e ideologia do que propriamente bandas que seguem a multidão.

    No universo americano não tenho como deixar de citar Sonic Youth, Sebadoh, Dinosaur Jr, Pixies, Superchunk e tantas outras bandas que mesmo que a maioria das pessoas não as tenha ouvido, existe um pouco delas em vários artistas que foram influenciados por estas bandas.

    São megabandas? Não!
    São vendedoras de milhões de discos? Não!

    Por isso a pergunta que sempre faço quando ouço algo é: o que isto traz de relevancia? O que isto tem de novo?

    Se na tal secular não tenho encontrado isto, imaginem quando olho para o universo cristão?

    Muitos se “vendem” mudando estilo e discurso porque querem atingir milhares. Muitos também parecem querer ser o novo Sergio Pimenta/VPC e vão para o lado mais dito vanguarda-MPB.

    O que isto tem de NOVO e RELEVANTE? Ser separados em “gangs”? Tipo Varejão ou Elite Musical?

    Sinceridade, emoção e novidade é o que o povo tem sede e não tem sido suprido! Enquanto isto bebe de várias fontes e não tem a questão da sede resolvida.

    Não sou músico, sou um mero ouvinte. Posso (e devo) ter viajado na maionese. As muitas letras me fazem delirar… Como internet não tem a voz de quem escreve, leiam isto com um tom de desabafo BEM HUMORADO e ESPERANÇOSO. Não sou amargo e nem quero que tenha um tom de quem se acha o sabidão, mas de quem ama música e ama o Criador de todos os tons e fica “agoniado” em ver amados irmãos que preferem vender a mensagem do que ser o que proclamador da mesma.

    Sei que deve ter colocado muita pimenta, sem trocadilhos com o extraordinário poeta Sergio, mas é o que eu creio.

  3. Sandro says:

    Ainda dando pitacos…

    Eu citei uma banda americana chamada Sonic Youth.
    Eles tem quase 30 anos de existencia e sempre foram considerados indie, mesmo quando assinaram com gravadoras grandes. O porque disto? Não abriam mão da liberdade de criação.

    Quem conhece a banda, sabe que o que mais existe são microfonias e distorções que são bases melódicas (vc não leu errado: microfonias como bases melódicas!!!).

    Vejam um clipe de 1988:

    Vejam agora uma apresentação Ao Vivo a poucas semanas, lançando o novo disco “Eternal”:

    Gostando ou não do som da banda, eles mantém o frescor. Claro que existem sub-sonic-youths, mas eles se tornaram únicos por não terem se vendido a multidão!

    Hoje a “multidão” até procura estes já cinquentões como algo novo ou inovador 30 anos depois!

    Pararam para pensar nisto?

  4. Cadu says:

    Sandro!
    Cara, tô ouvindo o novo do Sonic Youth, The Eternal (sensacional!), ouvi o do Iggy Pop tb (bem interessante, tem um cover do Tom Jobim (sic))…acho que é esse o lance…tanto lá no mainstream quanto aqui no underground, por vezes, não há interesse por mentes e corações libertos…isso é bom pra caramba…por que aí, nos responsabilizamos por nossas artes. De certa forma, podemos funcionar como a Zion de Matrix: onde mentes e corações (pelo menos a do artista) libertos podem viver livremente, expressando seus mais sinceros e orgânicos sentimentos e intuições.

    Tenho dito! kkkkkkkkk

  5. Eduardo Mano says:

    Renato, fique à vontade para repostar qualquer texto aqui do blog. Vocês aí são a voz da busca pelo equilíbrio. Continue com o bopm trabalho, cara.

    Sandro, vc escreveu isso aqui: “Não sou amargo e nem quero que tenha um tom de quem se acha o sabidão, mas de quem ama música e ama o Criador de todos os tons e fica “agoniado” em ver amados irmãos que preferem vender a mensagem do que ser o que proclamador da mesma.”… é EXATAMENTE disso que eu tô falando. É nesse sentido que o espírito independente se manifesta em nosso meio, quando nos importamos mais com a mensagem que com os lucros.

    Cadu, são tantas referências no seu comentário que o título de pastor da pós-modernidade realmente lhe cabe… heheheheehe… tô zoando. Você vai ser / é o primeiro pastor a admitir ouvir Sonic Youth e Iggy Pop abertamente, e isso é um bom sinal… 🙂

  6. Sandro says:

    Olha… Eu vou pró seminário usando camisa do Ramones!!!!

  7. josenildo do nascimento rodrigues says:

    são tantas referências no seu comentário que o título de pastor da pós-modernidade realmente lhe cabe… heheheheehe… tô zoando. Você vai ser / é o primeiro pastor a admitir ouvir Sonic Youth e Iggy Pop abertamente, e isso é um bom sinal… 🙂

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