Um outro título possível para esse texto seria “Sermões que não serão pregados”.
Não sei quanto a vocês, mas um dos pecados que preciso lidar é com minha inabilidade de lidar bem com situações que fogem ao meu controle – especialmente quando uma só coisa errada põe a perder uma série de eventos.
É comum, embora um tanto ingênuo, pensar que tudo aquilo que tem relação com o serviço do Senhor certamente terá sucesso. E de fato, em última instância, sempre dá mesmo certo – mas nem sempre da forma como imaginamos.
Tomemos por exemplo e pregação do Evangelho a uma igreja sem pastor, distante 200 km de onde você mora, e você faz parte da equipe que, domingo após domingo, se reveza na viagem até esta igreja para prover alimento espiritual àquela comunidade.
É óbvio que nada vai dar errado. Certo? E você faz tudo corretamente – desde a organização do serviço na sua própria igreja (uma vez que, devido à viagem, não poderia participar de um dos cultos) até o horário de saída (com antecedência, para chegar na cidade com calma, horas antes do culto).
É claro que nada vai dar errado. Não é mesmo?
Mas… e sempre há um mas, você não conta com problemas mecânicos no veículo. Você nunca imagina que o seu carro, que nunca apresentou aquele problema específico, decidiria que hoje era o dia de parar. No meio da estrada. Sem absolutamente nada por perto. É claro que carros velhos dão problemas, e mesmo que eu soubesse de outros problemas existentes nele, nenhum impedia uma viagem de 200 km.
E aqui entra o meu pecado, de não saber lidar com a quantidade de ações que precisavam ser feitas em poucos minutos, sem tornar o momento, que já era desagradável, ainda pior para todos os envolvidos: eu, minha esposa e minha filha.
Então liga para o sogro, que sabe bem mais de carros do que eu. Liga para o meu pastor, que poderia ajudar a decidir o que fazer com a necessidade de alguém pregar no meu lugar. Liga para o seguro. Liga para o reboque. Tenta ir com o carro, mesmo com problemas, para algum lugar mais conhecido, onde o reboque e o transporte que nos levaria de volta pra casa pudessem nos encontrar. Lidar com a frustração da minha filha, da minha esposa, e a minha própria frustração. Lidar com a espera pelo reboque e pelo transporte. Lidar com a dor de cabeça que surgiu. E tudo isso em pleno dia das mães.
Pensar de novo, e de novo, no sermão que eu iria pregar. O tempo de preparo foi em vão? Minhas motivações não estavam corretas? O sermão era tão ruim assim que Deus preferiu enviar outro pregador no meu lugar? O quão inútil sou, enquanto servo? Sou um servo que não serve para nada?
E ainda: saber que Deus foi glorificado, pois o cuidado que tive antes da viagem foi o que permitiu que tudo fosse contornado, pois de outra forma, não haveria tempo para uma substituição. Mas se Deus foi glorificado, por que eu não consigo descansar Nele, a ponto de não tornar o restante do domingo um fardo para minha família, especialmente para minha esposa? Por que não consigo entender que Ele faz as coisas como quer e que eu preciso – P R E C I S O – descansar nisso?
Sempre achei que eu fosse uma pessoa realista, mais puxado para o pessimista. Não tenho a pretensão de que tudo vai sempre correr bem. Na verdade eu tenho bastante certeza de que muitas coisas vão correr mal. Mais ou menos como aconteceu conosco. E reconheço que, embora isso me ajude a lidar com algumas frustrações, não é a atitude mais saudável para se manter. Mas para algumas expectativas eu quero ser otimista. E é justamente quando elas dão errado que eu me torno alguém insuportável de se conviver.
Só que se há uma coisa que aprendemos com Jó, é que “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado.” Os nossos planos podem ser frustrados num piscar de olhos. os planos de Deus, não. Nunca. E é por isso que, como um cristão claudicante, ainda mantenho minha esperança última Naquele que conhece os fins e também os meios, e que não abandona nenhum dos Seus, mesmo nos momentos mais complicados – quando tudo nos leva a crer que nossa idealização é o que trará mais glória a Deus, e somos provados em erro.
Se, conforme disse John Piper, Deus é mais glorificado em nós quando nós quando estamos mais satisfeitos Nele, então eu ainda tenho um bocado de satisfação em Deus para exercitar. E quero aprender a viver de forma a glorificar a Deus mesmo em meio aos desapontamentos, para que isso permita que minha família também glorifique a Deus – pois tudo que tenho conseguido, infelizmente, é deixar a todos irritados.
Deus me ajude.