No último texto eu falei que “As bandas cristãs teriam muito a aprender com as novas tendências, se não estivessem tão preocupadas em soar como uma cópia do United, ou se cada banda que se forma nas igrejas já não tivesse o intuito (como se esta fosse a única forma de “acontecer”) de assinar um contrato com alguma gravadora.” Eu já vi e ainda vejo esta história se repetir quase todos os dias. E por isso, gostaria de falar a respeito de sucesso.
Quando os Vencedores por Cristo foram criados pelo missionário Jaime Kemp em 1968 a idéia era trabalhar missões com grupos de jovens que viajariam pelo Brasil levando música e palavra. Foram inúmeras equipes missionárias, e vez por outra uma das equipes trabalhava na gravação de um disco. Só que o foco do trabalho não era a gravação, mas sim as viagens missionárias, e aqui faço um adendo.
Viagem missionária, para quem nunca participou de uma, significa abrir mão de conforto. Esqueça quartos de hotel com ar-condicionado, frigobar e serviço de quarto. Na melhor das hipóteses, você vai dormir no alojamento de algum retiro ou na casa de algum irmão, mas pode ser que passe a noite num colchonete, numa rede ou no chão da igreja. Muito diferente das exigências que as bandas fazem hoje em dia ao receber o convite de alguma igreja distante, onde hotel passa a ser uma obrigação. Mas voltando ao assunto.
A maldição da mídia gospel e dos luxos vividos pelos artistas transformou aquilo que era para ser missão e serviço em regalias, proveito, benefícios e mamata. Sim, mamata. Afinal, não é mamata viajar de graça pelo país, recebendo por um final de semana aquilo que muitos pais de família brasileiros demoram 3 ou mais meses para conseguir, e ainda por cima com tudo pago? Meus caros, onde chegamos?
Para muitos jovens e adolescentes, mais importante que fazer música que agrade a Deus e sirva de conforto, exortação e ensino ao Seu povo, já no primeiro ensaio da banda são definidos quando o CD será gravado, quais serão as exigências para irem a algum lugar e por aí vai. os fins passaram a justificar os meios: faço música para ter uma vida de rockstar.
Já chegamos a um ponto onde há calotes de promotores de eventos e de bandas. Promotores inescrupulosos que deslocam uma banda para algum lugar e no final das contas não honram com seus compromissos nem com o público nem com a banda. Mas também há falta de escrúpulos nas bandas que desmarcam evento já agendados em favor de outro, na mesma data, que vai “pagar mais”, ou dar mais visibilidade. Não basta termos beirado o absurdo, mas ultrapassamos a linha que o define e fincamos a bandeira do mercado por lá, bem distante do que, creio, é a vontade de Deus para aqueles que se iniciaram neste caminho.
A verdade é a seguinte: nem todos serão o Oficina G3, o Diante do Trono, o Quinlan ou qualquer outro dos que vive exclusivamente do mercado. Há grandes chances, na verdade, de que você sua banda nunca passem dos limites da sua cidade, e que precisem ter empregos que banquem a música. Digo isto por experiência.
Quando gravei o Canções para Grupos Pequenos eu não imaginava que ele teria mais de 1000 downloads. Por mais que este número seja pouco, para mim foi muita coisa. Só que isso não abriu mais possibilidades de agendas. De fato, as igrejas onde tocamos no início eram igrejas de amigos – da mesma forma que funcionamos hoje. Para gravar o Esperança, troquei meus serviços de designer pelas horas de gravação em estúdio. Foram mais de 2000 downloads deste disco, e novamente, nossa agenda ainda não ficou lotada. Para o Velhas Verdades, a opção de gravarmos em casa não foi apenas para provar que era possível, mas também por não termos dinheiro para gravar o disco. Foram, até agora, mais de 1500 downloads do disco, e nossa agenda não lotou com isso.
Se penso em sucesso e vejo que nossa agenda está vazia, a lógica mundana diz que não o temos. Só que com Deus a parada é diferente, e quando vejo as mensagens e emails que recebemos de gente que foi tocada pela música, ou que ouviu Deus falar com elas através de uma letra… eu não posso deixar de ficar feliz com isso! Quando lembro de todos os amigos que fiz por causa da música nestes últimos 3 anos, não tenho como não me sentir alguém de sucesso! Eu trabalho de segunda a sexta de 9 da manhã ãs 18 da noite, e muitas madrugadas eu estou no computador, trabalhando, para sustentar minha casa. Não é incomum termos que colocar dinheiro na banda, pagando ensaios e duplicação de CDs, e não sei se algum dia isso se tornará autosustentável, mas como eu tenho prazer em sentir Deus confirmando em meu coração que é para continuar.
Eu queria que outras bandas tivessem esta mesma alegria.
Passei boa parte dos últimos meses crendo que o que fazíamos é arte, e que por isso, seríamos artistas. Tolice minha. Se é ou não arte, isso deveria importar menos do que o fato de ser instrumento de Deus para tocar vidas., e que neste sentido, sim, a banda passa a ser um ministério, e os membros dela ministros, mas com a humildade que o nome dá: ministro é servo, e o serviço é a Deus e à Igreja. Até o “ser ministro” pode encher as pessoas de orgulho.
Eu sinceramente gostaria que não houvesse tanto dinheiro envolvido no mercado gospel. Gostaria que mais e mais bandas redefinissem suas visões acerca do que estão fazendo. Gostaria de poder mudar a mentalidade de muitas igrejas e fazer com que elas investissem mais em missões ou em seus membros do que nas bandas convidadas do congresso jovem, mas não posso. Veremos no que isso vai dar um dia.
Quanto às bandas, no próximo texto falaremos um pouco sobre como tentar equilibrar o chamado, mantendo-o o mais puro possível com uma visão sadia de mercado, e nas formas que a banda pode pensar para fazer sua divulgação de forma criativa e honesta.
Até a próxima,
Eduardo Mano