Eu não gosto do Rio de Janeiro. Quem me conhece sabe que minha preferência é por outra cidade, mais cinzenta, uns 400 quilômetros de distância. Não escondo isso de ninguém, e quando puder, pego Eline, umas trouxas de roupa e partimos daqui. Mas isso não me impede de chorar pela cidade onde nasci.
As últimas 30 e poucas horas foram as piores que nós, cariocas, enfrentamos em um bom tempo. Ou melhor, mau tempo. Usar a expressão bom tempo é até sacanagem. Não que nós não apreciemos uma boa chuva, pelo contrário: já até aguardávamos ansiosos por elas há algumas semanas, tanto calor que temos enfrentado nesse atípico outono. Mas o que veio não era o que esperávamos.
De acordo com os jornais televisivos, choveu, nas última horas, o equivalente a 300.000 piscinas olímpicas. Choveu o que era esperado que chovesse no mês de abril inteiro (o segundo mês mais chuvoso no Rio). Choveu a ponto de encher rios e galerias, entupir bueiros, alagar ruas. Tragédia. 95 pessoas mortas, e escrevo esse texto às 22h de terça-feira. As buscas por sobreviventes – e corpos – foi encerrada há poucas horas. Esse número infelizmente há de aumentar. Centenas de desabrigados. Pelo que sabemos, apenas na base da JOCUM do Borel, há 70 famílias abrigadas.
Vendo os jornais televisivos na hora do almoço e após o trabalho eu chorei. Chorei ao ver o pai chorando pelos filhos mortos. Chorei ao ver o marido chorando a perda da esposa e da filha. Chorei ao ver a mãe chorando a perda da filha e das netas. Dói demais. O que é o homem, senão neblina? E nesse tempo, fiquei indignado com os cariocas e paulistas e demais brasileiros (muitos dos quais cristãos) que faziam pouco caso da situação caótica da cidade. Alguns cariocas, inclusive, muito mais preocupados em celebrar o dia de folga forçada do que chorar e agir pelos que tudo perderam.
O Rio é o Haiti do Brasil. A comparação é bem tosca, eu sei: no Haiti a situação é extremamente pior, os números de mortos e desabrigados são infinitamente maiores e o custo da reconstrução é exorbitante. Mas é a nossa chance de chorar com os que choram, com os que estão próximos. Novamente: eu SEI que a comparação é tosca. Não precisa deixar comentário dizendo quão absurda ela é. Leia a frase inteira.
Hoje temos o caos instaurado na cidade. Não sabemos se amanhã, quarta-feira, poderemos ou não sair de nossas casas. E o que ficará, em dois ou três dias, é a lama (que já pode ser vista na Avenida Maracanã, próximo ao Shopping Tijuca, e em alguns pontos da Praça Saens Peña).
Não quero questionar a vontade de soberania de Deus. Deus se move de formas misteriosas (frase de John Flavel). O que me deixa com raiva é a prontidão em zombar, e a demora em dobrar os joelhos – e isso é um problema dos homens.
Que O Senhor tenha misericórdia do Rio, de São Gonçalo e de Niterói, os três municípios atingidos pela tragédia. E que tenha misericórdia de nós, homens pecadores e com corações de pedra.
Eduardo Mano
Confesso que, no dia em que os cariocas ficaram em casa, eu ainda tava achando a história toda muito exagerada, fiz piada com o famoso dom do carioca de arranjar folga pra ficar em casa qualquer que seja o motivo, enfim.
Mas, com o passar dos poucos dias, fui percebendo quanto a situação aí tá ficando grave.
Ontem, vendo o futebol, transmitiram que em Niterói havia desabado um morro carregando mais de 20 casas abaixo. Hoje, vi que esse número aumentou bastante.
E a sua comparação com o Haiti é totalmente compreensível. Em proporções muito menores sim, mas, pra quem perdeu tudo (ou o pouco) que tinha, proporção é o que menos importa.
E o que nós cristãos podemos fazer mesmo é orar e colocar a mão na massa. Cariocas que estão com a casa em ordem são braços mais que importantes pro povo aí…
Abraço,
Carol
Amém.