Às vezes eu não faço ideia do que eu estou fazendo. Refiro-me ao lado musical da minha vida.
Este talvez seja o texto mais difícil que já escrevi. Sinceramente, é um exercício autoavaliação bem complicado admitir algumas das minhas falhas (para não dizer pecados), mas este ano estas coisas ficaram tão latentes para mim que não escrever isso seria não dar mais um passo rumo a uma libertação que espero em Deus.
Eu sofro de uma incrível dose de pessimismo, e minha constante autodepreciação não é ferramenta para o “ei, olhem para mim”, mas sim algo infelizmente verdadeiro. Quando apresento uma música nova a alguém, eu nunca espero que ela possa ser “gostada”, mas sim, criticada.
Tendo dito isto, posso dizer que algumas atitudes que tomei durante este ano em relação à minha suposta “carreira” musical foram completamente equivocadas, embora tenham sido divertidas. Por exemplo, no início do ano convoquei meus amigos (e a pessoas que nem conhecia) a votarem na banda para que participássemos de um festival. Enchi o saco de um monte de gente, e acabamos indo lá tocar. Mas antes, eu passei um mês em Manaus com Eline. Arrisco dizer que foi, de longe, o melhor mês do ano. Senti Deus, de alguma forma, reafirmando algumas coisas para mim. E depois, fomos para o festival, que foi muito legal. Mas a experiência na cidade de São Paulo, no geral, foi péssima. Horas antes de voltarmos ao Rio, eu estava muito mal, questionando tudo aquilo que Deus havia reafirmado algumas semanas antes, enquanto olhava o céu do barco, entre uma comunidade ribeirinha e outra, vendo o poder e glória de Deus através da criação.
Durante a volta para o Rio, de ônibus, pude refletir no quanto estive errado em perseguir aquele final de semana, como se ele pudesse representar uma mudança em algo. Sou grato ao pessoal que nos levou, e guardo no coração os momentos com os amigos lá, mas não deveria ter ido.
Também pude ver o quão invejoso eu sou. Triste admitir isto, mas algumas vezes eu me vi desejando (cobiçando) aquilo que outras pessoas tinham, as oportunidades que lhes eram apresentadas, a exposição que lhes garantiam. Questionei a Deus as razões de eu não tocar tanto quanto outras bandas tocavam, de não ter tantos convites, tantos seguidores no twitter (sim, cheguei a ESSE ponto, olha que merda), tantas pessoas falando a respeito da minha música… e isso, lamentavelmente, foi roubando a alegria e a força de cada email e mensagem de pessoas não elogiando aquilo que eu compunha, mas dizendo o quanto Deus falou ao coração delas através de alguma música minha.
Ouvi coisas que não ajudaram muito, também. Soube que um amigo havia dito para algumas pessoas que eu não era mais conhecido pois não sabia me divulgar direito. Também ouvi (mais de uma vez) que se eu fizesse “um som como o da banda A ou B” mais pessoas gostariam daquilo que eu faço. Este não é o tipo de coisa que alguém com um problema de baixa auto-estima gosta de ouvir, além de levar à inevitável e maldita comparação.
Nunca fiz música pensando em mercados, e por muito tempo me esforcei em fazer tudo da forma mais independente possível. Tentei acreditar que estava utilizando as mídias sociais da forma correta, mas a verdade é que eu basicamente fracassei. Não sei aplicar ferramentas ao que faço, e tenho medo de fazer isto. Perceber que sou alguém invejoso (em tratamento constante) faz com que eu tenha medo de tentar algo que alguém faça muito bem, com medo de falhar e a inveja voltar a aparecer. E ao mesmo tempo, eu não quero mudar aquilo que penso e sou com vistas em ter maior exposição, alcançar mais gente… vou continuar rimando Cruz e Jesus quando for necessário. Só a título de exemplo, uma das pessoas que mais admiro neste meio musical cristão gravou apenas um CD em sua vida inteira após 35 anos de ministério e serviço à Igreja. E morreu logo após lançar o disco.
O que me leva a outro ponto: eu não faço música de igreja por achar que isso tem futuro, obviamente. Faço por plena convicção de chamado. Sei que falar em chamado significa dizer que é algo que sinto ser de Deus, e ao colocar Deus na questão eu praticamente excluo qualquer possibilidade de discussão, mas é a mais pura verdade. Não mudei o que faço em 18 anos: desde os 14 faço exatamente a mesma coisa: escrevo pensando em Deus mas duvidando que alguém vá gostar daquilo.
Apesar de quem eu sou, e das besteiras que penso, sinto e falo, eu tenho uma paixão profunda por aquilo que Deus opera através de músicas entoadas com o intuito de ensinar a respeito de quem Ele é, em louvor unicamente a Ele. Eu sei disso pois foi exatamente isto que me trouxe a Ele, mesmo sendo filho de um lar cristão.
Neste ano eu pude ver claramente aquilo que Deus permitiu acontecer em minha vida e aquilo que Ele barrou, na minha frente, na maior cara de pau, por me amar. Pude, como bem cantou João Alexandre um dia, ver “meus olhos no espelho, por fora um herói, por dentro um ladrão”. Ver meu pecado na minha frente e ser confrontado por isso. E sou grato a Deus por tudo isso (embora às vezes não entenda muito bem as coisas que acontecem). Eu não faço a mínima ideia de como será o ano que vem, embora tenha decidido em meu coração algumas coisas, mas o que eu espero sinceramente é que Deus continue Seu tratamento comigo. Que a inveja suma da minha vida, que a autodepreciação apareça bem menos e que Cristo seja glorificado naquilo que eu faço, e em minha família.
continua.
Eduardo Mano
Mano… é de longe, uma das coisas mais esclarecedoras, corajosas e “despida” de orgulho que já li de algum “artista”, ainda mais cristão.
Sei q já disse isso (aqui) algumas vezes, mas vc tem sido uma referência, não só pela música, mas pela forma/perspectiva com q vê as coisas e fala.
Fala como nós gostaríamos de falar, mas acabamos sucubindo às formatações sociais impostas, muitas vezes, por nós mesmos.
Cara, eu não sei, mas pro ano q vem eu espero q vc continue com essa abordagem, confessando “pecados” publicamente, e, apesar de utilizar os “espelhos” do João Alexandre para vc, ao mesmo tempo, nós nos vemos em vc tb, com os mesmo pecados, ambições erradas, etc;
Paz e Bem, ótimo 2012 pra ti.
Certa vez me perguntaram o que eu via de diferente no Eduardo Mano, se ele rimava Cruz com Jesus como tantos outros. Eu respondi que as letras são um diálogo simples, aberto, sincero, como as orações que qualquer um de nós poderia – e deveria – fazer.
Acho que é isto, cara. Teu forte é este, é para isto que Deus te capacitou. Os sentimentos ruins sempre vão nos perseguir – inveja e cobiça, principalmente – até porque somos homens.
Mas se mantiver o foco no fato de que tuas músicas são usadas por Deus, sobreviverá a quantas crises vierem. O resto – que é onde reside nossos desejos – sempre será a consequência.
E eu falo isso tentando aprender o mesmo.
🙂
Cara, muitas vezes me sinto da mesma forma, não com a música, mas me sinto assim. O que posso te dizer é apenas para não parar. Mesmo que você não tenha o mesmo publico que os caras do mainstream, mesmo que muitas coisas não saiam como, às vezes, você gostaria, apenas não pare. Sendo um chamado de Deus, mesmo que você alcance apenas uma pessoa, esta pessoa pode mudar o mundo, o que importa é fazer a vontade de Deus, Ele faz o resto.
E se quiser conversar comu um outro inconformado, fale comigo, hehehe.
Paz.
Cara, suas musicas tem me inspirado. Tu é um dos poucos músicos cristãos que tenho ouvido, pois tuas letras retratam a humildade e a fé que a Biblia nos mostra.
Eu vejo em algumas letras suas poemas como os Salmos, antes eu sempre questionava porque a música cristão estava tão distante do livro que deveria servir de inspiração para nós.
Bom, não desista de fazer música… 😉
Por favor, continue rimando Cruz com Jesus.
Continue sendo um simples homem nas mãos de um grande Deus.
É disso que precisamos,de realidade,chega de músicas cobertas de maquiagem, estética,sons complexos e letras pobres.Do que adianta? Ouvimos e ficamos admirados, que acordes, que maravilha, que tecnologia. E no fim, não sabemos nada, não paramos pra olhar pra Deus.
Precisamos de músicas que nos constranjam, nos deixem assim, perplexos: Como Deus, o Criador, querer papo com a gente?
Por favor, essas músicas que precisam ser cantadas precisam de músicos para cantá-las. Talvez não muitos elogios receba, mas estará sendo o que Deus deseja que você seja.Nem maior,nem menor,do tamanho exato da vontade de Deus.
Vc é uma benção, cara. Obrigado por compartilhar com tanta sinceridade dilemas que muitos de nós temos e nos trazer à consciência que somos limitados e tão carentes do cuidado do Pai, direção do Espírito e de nos espelharmos em Cristo. Deus te abençoe, irmão!
Bem vindo ao clube dos fracassados assumidos. Só fracassa quem acredita que ainda pode ser melhor do que é… Prefiro ser um fracassado a ser acomodado, afinal o meu padrão é mesmo inatingível, por isso precisamos da graça! Novamente, bem vindo ao clube!
Digamos que não quero alimentar teu ego aqui (hehe), mas assim, cara:
O Velhas verdades, pra mim, foi o álbum mais compensador, ou mesmo relevante, que eu pude comprar / ouvir / passar pra frente quando o adquiri.
O porque? Pela simplicidade e sinceridade.
E a letra de Raízes fica ainda mais evidente em todo esse texto, então você fala com propriedade também nesse assunto.
Obrigado por ser meu alimento musical e de material cristão nesse tempo, gordinho. Deus tem te usado pra me edificar, assim como alguns aqui da igreja onde congrego, amigos, enfim, pessoas que tenho passado o teu trampo pra frente e que entendem que a verdade de Cristo está acima de qualquer outra música comercialmente bem sucedida sem uma gota de Evangelho em sua essência, superficial até na musicalidade.
Forte abraço, amigo.
Caro Mano,
Já escutei algumas músicas tuas feitas para pequenos grupos. Muito boas por sinal.
Mas fiquei muito feliz de ver alguém desse meio “musical gospel” falando algo que creio que quase todos acabam sentindo, mas muitos não falam com medo de perderem o seu lugar de honra na congregação dos consumidores.
Há alguns dias escrevi um artigo em meu blog: http://vozdoqueclamananet.blogspot.com/2011/11/desgraca-dos-ministerios-de-louvor.html
Neste artigo eu tento mostrar justamente que a finalidade dos ministérios de louvor está cada vez mais voltada para obter a glória dos homens e não a de exaltar a Glória do Senhor com pureza e simplicidade.
Acredite mano, Deus está movendo o seu Espírito para que ressurja aquela igreja perseguida, simples, cheia de poder e viva, que tinha na doutrina dos apóstolos, na oração, na comunhão e no partir do pão seus únicos e inabaláveis pilares (Atos 2:42).
No mais, oro para que Deus possa mover os corações dos músicos cristãos, como tem movido o teu e que os palcos sejam estirpados, de uma vez por todas das nossas congregações.
Shalom verdadeiro
Fiquei feliz ao ler algumas coisas, se “confessar” diante dos irmãos é sempre bom.
Mas vai lançar o “Mais Vale
Um Dia
Vale Mais” ?
Querido Mano, cara vc com certeza descreveu os anseios de muitas pessoas Brasil afora. A diferença é que vc abriu isso! E brother, de boa, se isso te ajuda quando eu ouvi o CD Velhas Verdades pela primeira vez eu pensei ” PUTZ, DEUS EU QUERO ESCREVER ASSIM!!!”
Eu tambem tenho sérios problemas com minha suposta-só Deus sabe-talvez um dia-futura carreira musical e compartilho de mta coisa que vc expôs aí. Eduardo, mano, siga em frente e confie na voz que fala aí dentro pq ela ta ecoando por aqui também….abç!