Sempre preciso fazer alguns avisos antes dos textos. Vamos lá. Escrevo este texto por achar a questão da cobrança de direitos autorais no meio gospel algo estranho e antibíblico (mas até aí, grande parte do movimento gospel o é). Escrevo motivado pelos amigos Vinícius Musselman (do Voltemos ao Evangelho) e Yago Martins (do Cante as Escrituras). E de boa, aviso aos que discordam (o que não há problema algum) e eventuais membros do CCLI que passem por aqui: Deus os abençoe e que Ele traga à luz aquilo que está encoberto: seja o que for – motivos errados do meu coração ou de qualquer outra pessoa.
Estabeleceu-se uma nova polêmica na igreja brasileira: a cobrança de direitos autorais pelas músicas cantadas nos períodos de adoração nas congregações. Sei que parece piada, mas não é. A CCLI, entidade internacional que fiscaliza a utilização de canções gospel nas igrejas, já começou a contactar algumas comunidades informando da arrecadação e da necessidade da “regularização” da situação das mesmas. Foi o que o Bispo Walter McAlister, da Igreja Cristã Nova Vida, postou em seu Facebook, e também em seu blog.
Mas o que é a CCLI? A sigla significa Christian Copyright Licencing, Inc. e iniciou suas atividades, formalmente, em 1988 nos Estados Unidos. No Brasil, a empresa funciona desde 2008. Basicamente o que eles fazem é “proteger” as igrejas de processos por infringimento de direitos autorais. Os valores cobrados (que variam de acordo com o tamanho da congregação) permitem que a igreja utilize um vasto catálogo musical gospel para diversos fins: desde projeção da letra da música até a gravação de músicas de artistas gospel em eventuais obras gravadas pela igreja. Os valores não são altos (como se pode conferir no site), mas acho que podemos tirar algumas lições de toda esta história.
Aviso logo que escrevo a partir, claro, da minha perspectiva. Todo texto, música, filme… enfim, toda obra de arte parte de um pressuposto, e aqui não poderia ser diferente.
Não creio que o CCLI esteja errado. Eles estão fazendo o trabalho que se propuseram, desde o início, a fazer. Mas acho que há um “desvio de conduta” dos autores. Entendam a razão: Imagine que eu grave um disco e diga que são músicas de adoração, e o lance por uma gravadora. A intenção, tanto minha quanto da gravadora, é que esta música chegue aos crentes; que eles comprem meu disco e que toquem em suas igrejas. Ou estou completamente errado?
Então, pelo que o CCLI se propõe a fazer, e se eu entendi bem, eu, como autor do disco, poderia muito bem ir até a igreja do irmão Fulano (igreja bem grande, aliás), onde eles estão tocando praticamente todas as músicas do meu disco em seus cultos, e processá-los por violação da Lei de Direitos Autorais. Mas peraí! A intenção original não era que isso acontecesse? Ou os artistas vão dizer agora que eles gravam um disco para que os irmãos apenas o ouçam em suas casas, e que não reproduzam as músicas em suas igrejas?
Eu devo ser um cara muito romântico. Minha esposa que o diga! Eu romantizo demais as coisas, e na minha ingenuidade, eu sempre acreditei que quando um disco é gravado, as músicas seriam para a glória de Deus, e Ele poderia fazer delas o que bem entedesse! Aparentemente, a coisa não funciona assim. A glória é de Deus, mas os direitos autorais são meus. Isso torna a coisa ainda mais grave.
Há uma infinitude de artistas gospel que dizem que “quem dá a música é Deus”, e que somos apenas vaso. Ok. Então quem deveria recolher direitos autorais é Deus, e não o artista. Mas acho que Ele não está tão interessado assim nestes “preciosos” reais…
Isso me faz lembrar do texto de Mateus 7: toda árvore boa gera bons frutos. E a árvore que não gera bons frutos deve ser cortada e lançada ao fogo. Tem gente no meio gospel que claramente busca a glória própria, a autoexaltação. Seus casacos caros, anéis de ouro, jatinhos, carros importados e imóveis de luxos dizem a quê vieram, e podem também nos dar uma dica de para onde vão. “Senhor, em Teu nome não profetizamos, expulsamos demônios e fizemos muitas maravilhas?” ao que Jesus responde: “Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” (Mateus 7. 22,23)
Mas não podemos separar o joio do trigo antes que chegue o tempo. Voltando a falar da CCLI, tem bastante gente que está participando da entidade e que sempre produziu bons materiais – frutos – para a Igreja brasileira. Não sei se é o caso de demonizarmos tudo e todos. É uma pena que, em teoria, tocar as composições de alguns irmãos sem ser parte do CCLI deixará uma aparência de ilegalidade nas igrejas… qual a solução? Há dois caminhos, em princípio. O primeiro é voltarmos aos hinos. O segundo é buscarmos aqueles compositores que, pouco conhecidos, de bom grado cedem suas composições para o fortalecimento e instrução da Igreja. Não precisamos deixar de ouvir quem faz parte da CCLI, mas temos alternativas ao culto comunitário.
Todos que me conhecem sabem como eu me sinto em relação ao meio gospel. E por isso fiz questão de utilizar este termo no texto, e não o termo música cristã. O gospel é mercado, pautado por transações financeiras. Não há como esperar do mercado nada muito diferente disto. Mas creio que todo dom e talento é graça gratuita dada por Ele. É Dele, vem a nós por meio Dele e sua utilização é para a glória Dele. Se eu busco exaltar a Cristo em todas as minhas atitudes – sejam elas ministeriais, familiares, profissionais, o que for – como eu poderia pensar em processar uma igreja, uma comunidade de irmãos meus, acolhidos como filhos por adoção, assim como eu, e pertencentes à mesma família espiritual, por quebra de “direitos autorais”?
Como eu disse, o que componho é Dele. Não meu.
A Ele a glória para sempre, amém.
Perfeito… quanto a gravações e reproduções em material comercializado, a CCLI faz um trabalho primoroso. Porém… no culto público? Ninguém paga pra entrar. Tá dízimo (para aqueles que gostam de encrencar), mas não se barra ninguém na porta por não ter pago. A igreja é uma instituição sem fins lucrativos e, com isso, goza de uma isenção de certos impostos. Mas se pagamos direitos autorais, então assumimos que temos lucros. E ainda somos uma instituição sem fins lucrativos? É muita sutileza, uma atrás da outra, mascarada tão, mas tão sutilmente…
Complicado isso. Fantástico seu texto Eduardo! Posso cantar uma música sua na minha igreja? hehe… forte abraço!
Andrew, concordo com você. Por isso coloquei o “disclaimer” lá em cima sobre Deus trazer à luz aquilo que está ainda em trevas… é complicado quando se mistura evangelho e dinheiro.
E cara, é claro que pode cantar música minha. hahahaha… eu já as disponibilizo de graça! Pode tocar sem medo de cobrança. 🙂
O produto da CCLI songselect é justo, mas a tal proteção é abusiva. As igrejas não são cobradas pelo ECAD para execuções das músicas, a lei que eles se baseiam para a publicidade está sendo revista com clausula excluindo os cultos de taxação, e a propagando usada de eufemismos e terrorismo. Eufemismo em dizer “Faça do jeito certo” apelando para uma cobrança de consciência cristã, alias consciência que por um lado nos chama a fazer certo não cobrar ou pagar pelo louvor no culto. Terrorismo por aumentar o caso da possibilidade, não probabilidade, de taxação pela lei de direitos autorais, dando a impressão que igreja estão sendo taxadas, e que logo a sua poderá ser, então se proteja. Com a lei sofrendo a alteração que se prevê, e artistas cristãos autorizando publicamente a utilização de seus trabalhos em cultos sem ônus, o “serviço” prestado pela CCLI de proteção será inútil e quem estiver pagando pelo serviço e não for informado da mudança na lei caso houver, estará sendo lesado.
Sinceramente, acho que é até bom. Primeiro porque facilitará ver quem está fazendo música pra glória de Deus e quem está fazendo por dinheiro (salvo algumas excessões como você disse no texto); Segundo porque mexerá com quem está em cima do muro a respeito da música gospel; Terceiro porque haverá uma grande faxina nos momentos de louvor das igrejas que optarem por não pagar o tal CCLI. E que tudo seja feito pra glória de Deus. Até o trabalho do CCLI.
Bom texto Mano! Eu estava pensando sobre isso… mesmo que seja “legal” a cobrança dos direitos autorais (o que não tenho certeza por a igreja não ter fim lucrativa), me lembrei do texto de atos onde todos vendiam tudo o que tinham e davam para a igreja em função do todo da comunidade. Mesmo que seja direito de propriedade do artista, a bíblia mostra para abrirmos mão do nosso direito em função do todo da igreja! Mas eu espero que isso seja um start para uma coisa que eu creio…. que cada igreja deveria compor as suas próprias de acordo com a sua realidade cultural, teológica e seu “momento espiritual”. Talvez a cobrança de direitos para o uso de músicas no culto contribua para deixar-mos de ser “glutões” pela cultura de massa, e passemos a valorizar o nosso próprio tempero, nossa própria musicalidade, nossa própria cultura local!
Abraços
Cara, sensacional sua reflex….
Tive a sorte de comentar o texto pessoalmente. Texto duro, mas necessário. E assim Cristo agiu durante todo o tempo em que esteve aqui. Continue no caminho certo, meu camarada!
🙂
Negócio é negócio como bem diz o autor do texto.
Olá Mano aqui é Jefferson desde Chile enviando um saludo, e recordando de sua oracao no época do terremoto por aqui que agora é minha esposa. Vejo ser á música é Deus quem dar porque eles querem cobrar. e Porque nessa lista de autores como Mozart e outro bem antigo creio concordariam em sua execucao em qualquer igreja… Mas com vemos isso é apenas negocios
Duas pessoas nos comentarios ja afirmaram que nao será cobrado por musicas tocadas em cultos. Vai ou nao? Se for, me desculpe sua polidez, caro Mano, mas n serei nenhum pouco: me dedico a daqui pra frente torcer e batalhar pra que instituicao q leva o nome de cristã se acabe o quanto antes.
Ricardo, não será . O ECAD não cobra, não será o CCLI a cobrar. Mas não mudo meu texto. Como disse, não creio que o CCLI esteja errado. Errados estão os “artistas” góspeis (ha) que não mudam sua mentalidade nem seu amor pelo dinheiro.
Creio que a “instituição” gospel / evangélica, esta sim, deva ruir. Mas a cristã não. Ela é a única bíblica, e tá lá em Atos. As portas do inferno não podem se levantar contra a Igreja, mas elas já estão escancaradamente dentro da cultura gospel.
orgulho de ser teu amigo
Eduardo, você viu que na lista da CCLI constam compositores eruditos como Johann Sebastian Bach, Georg F. Handel, Ludwig van Beethoven…?
Aí eu fico mais preocupado. Música clássica é de domínio público, não há direitos autorais. Isso é honesto?
Esse site –
http://imslp.org/ – contém música de domínio público. A CCLI não pode se impor sobre isso, até porque a lei não ameaça a execução pública destas músicas.
Olá Mano.
Como comentei antes por aqui, me vejo obrigado recolocar minha opinião em um ponto que está sendo amplamente falado de forma equivocada (pelo meu atual entendimento) nas redes sociais! Não está sendo cobrado direito autoral pela execução de músicas (pela equipe de cânticos) dentro dos cultos. A atual posição do ECAD é a de não cobrar manifestações religiosas ocorridas dentro dos templos, e está caminhando um projeto de lei que garanta isso na constituição, e não é isso que a CCLI está se propondo a fazer. O blog Genizah fez uma boa reportagem sobre o assunto, olhando para os dois lados de forma imparcial. Vale a pena dar uma olhada.Por favor, não me entenda errado, não estou defendendo a CCLI…. acho que a carta enviada que gerou toda a polêmica, como proposta de marketing foi no mínimo ruim…. temos que criticar o que está errado, só me preocupou que apareceram uma avalanche de críticas nas redes que, na maioria, me pareceram infundadas (não foi o seu caso, Mano, sua abordagem foi boa)!Precisamos sempre debater, nunca bater boca! Que Deus nos dê sua sabedoria!
Acabei não tendo tempo desse fim de semana, mas vou ler com calma e entender o que a CCLI está se propondo afinal, e entender se é válido.
“(…) O segundo é buscarmos aqueles compositores que, pouco conhecidos, de bom grado cedem suas composições para o fortalecimento e instrução da Igreja. ” São pouco conhecido justamente por isso, porque não tratam a música que dizem fazer para adoração do povo de Deus como um negócio. E por isso não geram interesse dessas gravadoras e instituições capitalistas. A de se ressaltar que existem artistas cristãos que tem como objetivo justo esse, o de serem “artistas”. A banda palavrantiga é uma banda, ou seja é o seu emprego, por assim dizer, logo, é justo que recebam por isso, mas louvor congregacional comercializado. É o fim da picada. É até uma coisa engraçada… Palvrantiga… e as Velhas verdades… é… o novo soa estranho de mais.Abraço, daqui de Manaus, Belo texto Eduardo.