Os Dias Maus

É para mim um mistério tremendo a boa disposição que alguns cristãos possuem de, apesar dos maus dias, manterem um espírito elevado e agradecido, conscientes que Deus sustenta em suas mãos todo o calendário, e não apenas os dias em que tudo corre de acordo com um script que existe apenas em nossas cabeças. É certo que a intimidade com o Senhor, o poder da Palavra e a ação constante do Espírito faz parte da equação deste mistério, mas não deixa ser, ao menos para mim, ainda misterioso.

Digo isso porque há inúmeros cristãos comprometidos com a Palavra, cientes da soberania de Deus e que amam profundamente a Jesus que, acometidos do dia mal, sofrem. E saber que Deus é Senhor também destes dias infelizmente não traz, à partida, um remédio eficaz e imediato, que instantaneamente transforma o pranto em riso. Em muitos destes dias, o remédio é lento, tem gosto amargo, e o alívio vem apenas depois de muito choro, abatimento e reflexão.

Há dias ensolarados, onde tudo corre bem, a gratidão é certa e o sorriso farto, mas a nuvem no horizonte teima em vir em nossa direção, e eventualmente tudo fica nublado, frio, cinza. E mesmo que estejamos empenhados no labor do Senhor, envolvidos em Sua obra, vendo Seu agir no meio da igreja, vêm as pequenas circunstâncias que querem roubar a nossa paz e de fato a roubam, levam-na cativa em suas garras atrozes. E então o sabor agridoce das lágrimas substitui o doce dos sorrisos.

Infelizmente eu sou um destes cristãos que sucumbem aos dias maus. Infelizmente o peso da ingratidão me abate, pois em meio a tantas bençãos que Deus concede em profusão, são as pequenas reclamações que me afligem e roubam minha paz. Há tanto para aprender e crescer, há tanto para mudar em meu comportamento como filho e servo que a caminhada parece longa demais. Se eu sei comportar-me quando estou sobre os montes, é necessário aprender a comportar-me nos vales e desertos.

O Salmo 42 é um lembrete de que os dias maus têm seu lugar em nossa vida. A alma do salmista está abatida e perturbada, mas ela deve esperar em Deus. O louvor ainda há de brotar nos lábios do que chora. O texto, embora nos chame à lembrança de que Deus é nossa salvação, não deixa de apresentar toda a tristeza pela qual o salmista passa. O abatimento, o suspiro, a sede, o choro… são todos bem reais. Muito reais.

O salmista, assim como nós, está suscetível às dores que o mundo traz. E embora seu coração seja tomado por estes lamentos, ainda assim seus lábios adoram a Deus. Há muito a aprender. O louvor ao Senhor não necessita das melhores circunstâncias, e precisamos aprender a adorá-lo mesmo quando não é este o nosso desejo.

Eu preciso mudar minhas atitudes e tornar meu protesto em louvor. E louvar mesmo que as lágrimas sejam meu constante alimento. A letra do antigo cântico diz que “o meu louvor é fruto do meu amor por Ti, Jesus”, mas o inverso também é verdadeiro: o meu louvor é fruto do teu amor por mim, Jesus. Pois há dias em que nosso louvor nasce desta lembrança.

Que possamos caminhar rumo a um pensamento e atitudes de louvor bíblicos, que sabem dignificar a Cristo mesmo quando as coisas não estão lá uma maravilha.

Deus nos abençoe.

2 Comments Add yours

  1. Sábias palavras, Edu Mano… por aqui também sou parecida. A ingratidão é uma das coisas que mais me fere. Não é o fazer algo por alguém e não receber algo em troca que me molesta. Mas é o fazer o bem e receber de volta o mal, impensado, deliberado. Felizmente tenho tratado isso no CR e agora nos Afetados por Afetos, e isso tem me abatido muito menos. Mas se eu não me trato não consigo. Feliz Natal e ano novo repleto da presença do Senhor. Abraço. Lilia.

  2. João Gabriel says:

    Te entendo, faço duas suas palavras, as minhas, se me permitir. Apenas acrescento uma angústia, e solidão no caminhar com Cristo, que na verdade, não deveria ser tanto assim, só que me deparo assim inúmeras vezes. Mas agradeço a família maravilhosa que pela misericórdia Dele, fui agraciado. Abração

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