Quem escreve (qualquer coisa) sabe que frases de efeito são sempre bem-vindas para gerar aquela sensação nos outros de que nós sabemos do que estamos falando. No texto anterior eu afirmei que nossa educação musical é feita pelos programas de auditório e pelas rádios FM, e eu gostaria muito que essa fosse apenas mais uma frase de efeito, mas ela é a realidade.
Todos nós que temos menos e 35 anos crescemos, muito provavelmente, tendo a TV como babá. Pegamos, alguns (os com mais de 30), um pouco do programa do Chacrinha, tivemos Xuxa e Angélica comandando nossas manhãs, Silvio Santos e Gugu Liberato trazendo as apresentações em playback do que era sucesso nas rádios de São Paulo, bem como a boy-band Polegar (a resposta tupiniquim ao New Kids on the Block?). De qualquer forma, a não ser que esteja enganado (o que creio não estar), tudo isso era fruto dos investimentos dos departamentos de marketing das gravadoras, que não economizavam em jabás para que seus produtos fossem vendidos.
Ficamos rendidos a isso por alguns anos até que em 20 de outubro de 1990 nascia a Mtv Brasil, então focada exclusivamente em música.
E aqui é importante fazer um adendo. Não estou nem cogitando a hipótese de que não haja ou houvesse jabá na Mtv. É claro que há. Só que com 24h de programação, fica complicado você só ter espaço para bandas de gravadoras dispostas a desembolsar uma verba. E quem assistia, como eu, a programas como Lado B do “Reverendo” Fábio Massari ou aos Fúria Metal (versão nacional do clássico Headbanger`s Ball da Mtv Americana – que ainda é veiculado) e Gás Total, ambos apresentados por Gastão Moreira, e ainda aos programas do Kid Vinil, Luís Thunderbird e outros VJs que tinham programas dedicados ao rock e suas vertentes, sabe que muitas das bandas que passaram por lá eram pequenas, às vezes independentes, e ainda assim tinham um lugar ao sol. Com a Mtv, houve oportunidade.
Particularmente, no mesmo ano em que a Mtv nasceu eu comecei a ouvir heavy metal, e muitas das bandas que conheci na época, a emissora as trouxe à minha casa. Era uma época em que discos de bandas desconhecidas ou fora do mainstream eram mais baratos, então minha coleção de vinis foi bem grande. A oportunidade que a Mtv nos deu foi a de expandir nosso conhecimento musica. Ela nos apresentou bandas e estilos que, até então, não estariam acessíveis a uma criança de 11 anos. Eu, que não tinha idade para frequentar bares de rock ou até mesmo para ir às lojas especializadas em metal, podia “consumir” tudo isso através da minha antena UHF (coisa que muitos dos que estão lendo agora certamente irão ao santo Google perguntar o que é).
Graças ao bom Deus, a internet chegou à vida dos brasileiros quase que ao mesmo tempo em que a Mtv decidiu que música não “vendia”, e começou a se dedicar à retransmissão dos (péssimos) reality shows da matriz gringa. Mas a benção já havia sido espalhada, e o que começou na televisão, ganhou força exponencial através das conexões discadas. Sim amiguinhos, antes da internet 10Mb que você tem em casa, nós utilizávamos conexões discadas que nos permitiam baixar um arquivo MP3 (veja bem, um arquivo, não um disco) em pouco menos de 4 horas.
O que vem depois disso, todos já sabem. Downloads de discografias completas de bandas, Napster, eMule, Metallica processando um monte de gente e não adiantando nada, mais downloads “ilegais”, sites, blogs e comunidades dedicadas a divulgar música, bandas desconhecidas e discos raros.
E onde entra o tal mercado da música nisso tudo? Aí é que está, nem eles sabem. A vanguarda, o mando de campo, já não está mais com eles.
É claro que os artistas que gostam de música e a querem tornar acessível ainda são menos ouvidos (afinal, o jabá e todo marketing das majors ainda abre portas), mas quem os ouve está mais disposto a “espalhar as boas-novas”. O mainstream quer nos dizer que os downloads gratuitos não ajudam em nada as bandas, plantando posts fakes em blogs direcionados ao mercado independente, mas se esquecem que hoje muitas das produções são tão “caseiras” quanto as fitas demos do Nirvana que os tornaram conhecidos na Seattle do final década de 80, antes da Sub Pop assinar com eles, e isso faz com que os custos caiam vertiginosamente, possibilitando assim que artistas distribuam seu material sem custo (ou a um custo bem mais apropriado) aos ouvintes.
As bandas cristãs teriam muito a aprender com as novas tendências, se não estivessem tão preocupadas em soar como uma cópia do United, ou se cada banda que se forma nas igrejas já não tivesse o intuito (como se esta fosse a única forma de “acontecer”) de assinar um contrato com alguma gravadora (falaremos mais sobre isso em outro texto). Ainda há gente esbravejando quando suas músicas são passadas adiante pela internet, e mesmo nos casos em que a venda dos CDs é a única fonte de renda do artista, ainda assim eu creio que a disseminação não é de todo mal. Especialmente quando ser conhecido é crucial para o bom andamento do ministério.
Mas tudo isso será abordado mais para frente.
Eduardo Mano
me lembrai do keith Green – que desfeiz o contrato com a gravadora (que na epoca era o musico que mais vendia nela) para destribuir de graça seus albons e olha que na epoca não existia internet!
“Mas ainda assim, creio que comprar Cds é um hábito de certa forma saudável. Se não for pesado ao seu bolso, ganha você, que adquire cultura e em alguns casos ganha o artista, que consegue sua renda justa (além de um admirador).”