Distrações e o trabalho para a Glória de Deus (ou Como o FIFA Mobile roubou meu tempo)

Recentemente comecei a refletir sobre aquilo que consideramos como “tempo livre”. Quando você é pai, tempo livre se torna um conceito bem abstrato. Minha esposa que o diga. Encontrar algum momento onde possamos distrair nossa mente daquilo que tentamos equilibra ao longo do dia parece algo inimaginável. Tempo livre, muitas vezes, é o que chamamos os poucos minutos que temos desde o momento em que nossa filha dorme até o momento em que nós vamos dormir.

Além disso, como designer autônomo, após passar o dia no trabalho muitas vezes chego em casa para o 2º tempo: projetos de clientes particulares ou pequenos freelances que preciso entregar. Eu não deveria dar muito espaço às distrações, mas infelizmente elas roubam minha atenção mais do que deveriam.

Uma das minhas distrações prediletas é o futebol. Além de acompanhar o time pelo qual eu torço, acompanho os campeonatos internacionais e o mercado de jogadores. Creio que esta até seja uma distração saudável, não gasto muito tempo com isso além de assistir às partidas televisionadas e ler alguns artigos. Mas há algo relacionado a este universo que realmente rouba meu tempo. Jogos de futebol.

Não tenho nenhum video-game. O último console que tive foi o Playstation 2, comprado usado por R$150,00 com 30 jogos e vendido pelos mesmos R$150,00 alguns meses depois. Isso em 2012. Mas a franquia FIFA Soccer sempre foi minha favorita, e tive as versões mobile desde o primeiro lançamento para Android, o FIFA 13. De lá para cá foram horas e horas gastas no jogo. Mas a coisa piorou no ano passado.

8 dias após o nascimento da minha filha, foi lançada a última versão do jogo, o FIFA Mobile. É um jogo realmente viciante. Além da aquisição de jogadores para montar o time dos sonhos, há ainda a disputa por pontos e prêmios que te obrigam a gastar tempo no jogo diariamente. E era o que eu estava fazendo. O jogo roubou meu rendimento no trabalho em casa, roubou horas de sono, roubou até meu tempo com Deus. Passava mais tempo jogando do que lendo a Bíblia nestes últimos meses. Fazia intervalos à noite, enquanto trabalhava, para jogar “apenas uma ou duas partidas”, e perdia 30, 40 minutos no jogo. Tempo que não volta, leituras que não voltam, sono que não volta.

Há alguns dias entendi que esta distração estava me impedindo de viver e trabalhar para a Glória de Deus plenamente. O jogo em si não é mal – futebol não é mal! Mas a forma como este aplicativo consumia meu tempo, isso era mal. Tornou-se um vício. Decidi apagar o aplicativo para ter menos distrações e mais tempo produtivo com aquilo que importa. Compor, tempo devocional, escrever, trabalhar com mais foco, dormir um pouco mais. Mesmo que o jogo nunca tenha roubado meu tempo com minha esposa e filha, ele roubava meu tempo com Deus, o que ainda mais grave. Se eu só posso ser um marido e pai correto através da entrega irrestrita da minha vida ao senhorio de Cristo, como posso negligenciar meu tempo com Ele?

Um texto que sempre me impactou é o Salmo 127. Tanto que escrevi uma música tendo ele como base. Mas passando da parte da edificação da casa, tem algo que é muito especial e que sempre teve um gosto agridoce para mim: o verso 2. “É inútil que madrugueis, que tarde repouseis, Que comais o pão de dores: Aos seus amados ele o dá enquanto dormem.” Deus valoriza muito o descanso (o relato bíblico da criação nos ensina isso de forma estupenda) e o sono. Os Salmos 3, 4 e 127 deixam isso bem claro, mas o 127.2 é especial. E sinto que, ao estender meu dia e reduzir meu sono, estou perdendo algo muito grande, seja o descanso ou aquilo que Deus quiser dar.

Distrações não são necessariamente más. Mas somos responsáveis pela forma como as utilizamos, pelo tempo que empregamos em coisas fúteis. Assistir a um jogo do time que torcemos não é algo necessariamente ruim, mas não tenha dúvida: deixar de passar tempo com Deus para gastar com jogos, é. O mundo não entende isso, mas é. E nós, adultos, que cremos sermos senhores do nosso tempo, somos responsáveis pela forma como o gastamos. Deus é infinitamente melhor do que montar um time com Reus na ponta esquerda, Hazard no ataque e Di María na ponta direita.

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